Racines: Début, Milieu et Début
A exposição Racines : Début, Milieu et Début, apresentada no âmbito da Saison France–Brésil 2025, constitui um gesto curatorial de alta relevância no contexto das artes afro-diaspóricas contemporâneas. Realizada nos Salons de Maison Blanche, em Marselha, e promovida pelo Ministério da Cultura do Brasil em parceria com o Banco do Brasil, a mostra articula um campo de interlocução transatlântica que reconhece, legitima e projeta a centralidade das matrizes africanas na formação estética, histórica e social do Brasil e de suas diásporas.
Ao reunir um conjunto significativo de artistas negros brasileiros, o projeto afirma a potência de uma produção que opera, simultaneamente, no plano da invenção formal e da crítica epistemológica. O título — Début, Milieu et Début — convoca a ideia de circularidade, rompendo com modelos lineares de tempo e propondo um retorno às origens que não se fixa no passado, mas se atualiza como princípio de recriação contínua. Assim, “raiz” não é aqui metáfora estática: ela se desdobra como tecnologia de memória, como gesto político e como metodologia de sobrevivência e imaginação.
As obras apresentadas mobilizam repertórios que atravessam corporalidades, materialidades da terra e práticas simbólicas que conformam o vasto território da experiência negra. Em diálogo com o espaço expositivo francês, essas linguagens reiteram a presença africana enquanto força estruturante das modernidades globais, desestabilizando narrativas hegemônicas e propondo epistemologias comprometidas com a dignidade, a justiça e o direito ao futuro.
Ao situar artistas negros brasileiros em um circuito internacional de alta visibilidade, Racines contribui para ampliar o reconhecimento de uma produção que, historicamente marginalizada, reivindica agora seus próprios marcos conceituais e seus próprios vocabulários críticos. Trata-se de uma exposição que opera no entrelaçamento de memória e movimento, afirmando a persistência da diáspora como campo de criação, resistência e reinício — sempre início, meio e novo início.
Para instituições dedicadas à salvaguarda e difusão da cultura afro-brasileira, como o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira, a exposição representa um ponto de inflexão: evidencia a urgência de fortalecer redes internacionais, ampliar dispositivos de circulação artística e consolidar um ecossistema de cooperação capaz de reposicionar a arte negra no centro dos debates contemporâneos. Racines reafirma, assim, que a arte de matriz africana não é apêndice de uma história maior: ela é o próprio alicerce de uma modernidade plural, insurgente e radicalmente viva.
O quê: Racines: Début, Milieu et Début
Curadoria: Jamile Coelho e Jil Soares
Quando: 18 de setembro até 31 de outubro de 2021
Onde: Salons de Maison Blanche, 150 Boulevard Paul Claudel, 13009 MARSEILLE – França
Travessias de Mar e Memória: Manifesto Visual Afro-Brasileiro
A exposição Raízes: Começo, Meio e Começo ancora na tradicional cidade portuária de Marselha, como parte da programação oficial do Ano do Brasil na França. Concebida pelo Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira, a exposição reúne, em seu panteão afro-diaspórico, dezoito artistas negros brasileiros que expressam, por meio da plasticidade de suas obras, elementos emblemáticos dos códices orais advindos da maior diáspora afro-atlântica da humanidade: “A sabedoria africana”.
A exposição é um convite a presentificar as memórias vivas daqueles que vieram antes de nós, com o intuito de conectar passado e futuro, preservando e reinventando, na diacronia do instante, nossa herança ancestral. Cada obra é o registro de um testemunho que resistiu ao apagamento histórico e floresce em novos horizontes, ativando no espaço expositivo sensações de pertencimento — tal qual um território sagrado de reparação — ao laurear o pensamento do filósofo quilombola Nêgo Bispo por meio deste manifesto visual contemporâneo, que ecoa em mares e terras dessemelhantes: “somos o começo, o meio e o começo“.
Assim, a travessia outrora feita de águas, repousa nos mares profundos que carregamos por dentro, como nascentes que se multiplicam em caminhos e rotas, guiando as eternas navegações humanas que se reinventam a cada novo encontro. Raízes celebra, assim, um tempo cíclico que pulsa no presente e projeta futuros.
Jamile Coelho e Jil Soares
Diretora artística e curador
Em construção.
Cintia Maria
Diretora geral
Banco do Brasil
Em construção.
Em construção.















