O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) sediou, na tarde do dia 26 de novembro, o lançamento de “Cidadanias Mutiladas, Dignidades Restauradas”, obra recente do diplomata Silvio José Albuquerque e Silva, publicada pela Editora Telha, no selo Pensamento Negro Contemporâneo. O evento integrou a programação pública do museu dedicada ao fortalecimento de debates sobre memória, cidadania e justiça racial.
O livro reúne perfis e relatos de pessoas negras que tiveram suas trajetórias atravessadas por formas diversas de exclusão — racismo, misoginia, xenofobia, violência institucional — e que, apesar dessas mutilações de cidadania, protagonizam percursos de reconstrução, dignidade e resistência. A obra dialoga diretamente com o pensamento de Milton Santos, referência citada pelo autor, ao discutir a noção de “cidadania mutilada” como expressão das desigualdades estruturais que moldam a experiência de grande parte da população negra no Brasil.
Durante o lançamento, Albuquerque ressaltou que o livro surge do encontro entre sua experiência no serviço diplomático brasileiro e a necessidade de revisitar histórias invisibilizadas, oferecendo-lhes voz e reconhecimento. Para ele, a diplomacia — assim como outras instituições do Estado — precisa se confrontar com as desigualdades históricas que marcam o país, e a literatura pode funcionar como instrumento de reparação simbólica e crítica social.
A escolha do MUNCAB como palco para o lançamento reforça o sentido político da obra. O museu, cuja missão é preservar e difundir a memória afro-brasileira e da diáspora africana, tornou-se espaço adequado para a discussão proposta pelo autor: a revisão da história a partir das experiências de quem, por séculos, teve sua humanidade negada ou reduzida. No encontro, representantes da instituição destacaram que iniciativas como essa ampliam o papel do museu como território de diálogo, escuta e ativação de narrativas negras.
O público presente participou de conversa com o autor, que abordou tanto aspectos biográficos dos personagens retratados quanto reflexões sobre dignidade, direitos humanos e enfrentamento ao racismo. A atividade reforçou a importância de incluir produções intelectuais contemporâneas no circuito de debates promovidos pelo MUNCAB, fortalecendo vínculos entre literatura, política e memória social.
Com “Cidadanias Mutiladas, Dignidades Restauradas”, Albuquerque se insere numa tradição de escritores que questionam estruturas de opressão e reivindicam urgências históricas. Ao receber o lançamento, o MUNCAB reafirma seu compromisso com projetos que ampliam o repertório crítico sobre a experiência negra no Brasil e promovem o acesso do público a obras que articulam história, identidade e cidadania.